Yasmine Amar Kaur

Flamenco em Cuiabá

quinta-feira, 8 de abril de 2010

¡Olé! Eso és Flamenco! - O DUENDE FLAMENCO



¡Olé! Eso és Flamenco!


No Flamenco, Olé é a manifestação mais profunda de cumplicidade, repleta de emoção e entusiasmo que, via de regra, confirma seu caráter de elemento primário de comunicação entre aquele que escuta e aquele canta, entre aquele que assiste e aquele que baila, entre aquele que palmea e aquele que toca. Acredita-se que esta expressão é derivada da palavra árabe Alá (Deus). Assim, quando algo está além das palavras, seja ele cante, baile ou toque, um Olé que brota livre e espontâneo da garganta, é capaz invocar o Criador como expressão da admiração diante daquilo que se aproxima da perfeição. É também, uma forma de reafirmar nossa presença e participação como expectadores e ouvintes.




O DUENDE FLAMENCO 



O flamenco é a arte do duende.
Mais que uma entidade fantástica, o duende significa um estado de espírito onde a alma pode enfim comunicar-se com um encanto misterioso, representado não pelo domínio de uma técnica, ou a busca de uma estética, mas através de ambos expressarmos quem verdadeiramente somos.



Em uma sociedade pautada na conquista, onde a racionalidade é bastante valorizada e estimulada, o duende nos reporta a outros domínios. Pertence ao âmbito não verbal, emocional, muitas vezes esquecido, ausente pelas exigências do cotidiano, de naturalidade e frescor. O duende, que para muitos, em um primeiro momento, recria a imagem daqueles pequenos seres que guardam os tesouros escondidos e vivem no interior da terra, para o flamenco nada tem a ver com esta definição, significando um estado mágico e sobrenatural de absoluta entrega aos sentimentos expressos, seja no cante, na guitarra ou baile.





Os ciganos acreditam que o Duende está entre eles quando a família está ligada por laços de amor muito fortes, - uma vez que o flamenco é a prática de toda a família participando, seja cantando, palmeando, ou bailando - fazendo parte de um ritual.



Se o Duende para os ciganos está relacionado com a força da união, representada pela família, pelo povo que compartilharam ao longo da história, da mesma sorte, a resistência, a defesa do sagrado direito de ser o que se é, e graças a isto o flamenco se revelou através do lamento do cante, da guitarra e a força do baile, talvez este lamento toque dentro de cada um de nós, apesar de não pertencermos a esta cultura que lhe deu origem. Porque se refere ao que pertence a todo ser humano, a necessidade de expressar-se através de outra linguagem como forma de compreensão de si mesmo e do contexto que nos encontramos. Esta identidade defendida com tanta força e dignidade desperta em nós uma parte de nossa própria identidade, e que não se refere à cultura, mas a condição de DANÇAR.





O ato de dançar significa recriar o movimento. Descobrir as possibilidades do corpo de redesenhar no espaço, liberto da automatização dos movimentos cotidianos. Nossos referenciais - as vezes responsáveis pela resistência corporal em aceitar uma nova concepção - impedem uma nova leitura do movimento. Esta aceitação dependerá de nossa afinidade com a linguagem expressa, muito mais do que nossa crença na capacidade física, que pode ser superada na medida que conhecemos estas limitações e nos empenhamos em transcendê-las.



Buscar nosso melhor, reconhecendo nossa trajetória, é atingir o nosso "movimento mais perfeito" e este não se refere, em termos comparativos, a um movimento único de perfeição, mas apenas o movimento que representa nosso processo de crescimento, tendo em vista, que existem uma quantidade de perfeições tanto quanto existem seres vivos. Assim, a dança poderá contribuir de uma forma mais prazerosa, se for entendida como um processo individual de reconhecimento interno e criativo, redimensionando suas possibilidades de aplicações e objetivos.

Mônica Raphael (1996/1997)






Nenhum comentário:

Postar um comentário