La Polaquita - Garrotin |
Quando as pessoas buscam aulas de Dança Flamenca muitas vezes buscam a dança espanhola ou então o estilo folclórico e nem sabem muitas vezes que existem diferenças entre os trê estilos.
No entanto, aprender a base , especialmente o toque das castanholas – que não faz parte do flamenco em si, mas do folclore e do clássico espanhol – está dentro da expectativa dos alunos. E ajuda a ter uma maior proximidade com a musicalidade, afinal, trata-se de um instrumento musical.
É natural vermos a grande maioria das escolas iniciarem o aprendizado do flamenco a seus alunos pelo folclore espanhol – especialmente as sevilhanas, fandangos e tanguillos. Justamente pela complexidade dos palos flamencos, especialmente, os compás de 12 tempos.
Entende-se por Clássico Espanhol as montagens coreográficas feitas em cima
de composições clássicas dos grandes autores espanhóis (de Falla, por exemplo).
Esse tipo de dança constitui um estereótipo fazendo apenas uma alusão ao flamenco e/ou folclore espanhol.
O Folclore espanhol é bastante rico. O Flamenco apropriou-se de muitos elementos do folclore de forma que passaram a integrar-se. A questão é que o flamenco não se aprende assim, a toque de caixa. Demora alguns anos pra que uma pessoa consiga expressar-se dentro dos palos e por isso o uso do folclore para satisfazer a necessidade que as pessoas sentem de apresentar, acaba sendo uma consequência natural. O que não pode acontecer é ficar só nisso. Concomitantemente ao estudo do folclore, o ideal é fazer um trabalho de base de taconeos , braceos, palmeos, estrutura do baile para quando o aluno adentre no flamenco puro já esteja com uma base sólida. Isso ajuda também a evitar a desistência. O índice de desistência no aprendizado do Flamenco é altíssima pois há que ter muita persistência e ser completamente apaixonado pela Dança pra não desanimar mediante às dificuldades iniciais e platôs atingidos na dança.
Os platôs são mais desafiadores, eu diria, do que as dificuldades iniciais. É quando o aluno, geralmente por falta de treinamento específico, não consegue evoluir e desanima.
Os platôs são mais desafiadores, eu diria, do que as dificuldades iniciais. É quando o aluno, geralmente por falta de treinamento específico, não consegue evoluir e desanima.
Tem também aqueles alunos que chegam às aulas de flamenco buscando aquela imagem caricatural (muito distante do que seria o flamenco) apenas performances sensuais com figurinos de babados e fendas, meia arrastão e gargantilha de flor no pescoço. Alguns alunos, no entanto, se encantam logo de cara pelo flamenco mais autêntico, genuíno e já chegam em busca desse aprendizado e daí sim, encontram na própria dança a motivação necessária para superar as dificuldades de aprendizado dessa Dança que é ritmo e memória musical puros.
Quando um grupo decide apresentar um pouco do Flamenco baseado em muito estudo e trabalho consistente geralmente tem como resposta a pouca aceitação do público e até mesmo dos próprios alunos, que dificulta muito para o professor. O Flamenco é uma arte em constante metamorfose. Suas raízes são nômades e esparsas e continua em constante mutação. É preciso que os alunos e professores estejam muito seguros do que estão produzindo como Arte, senão, o público não ficará encantado pois o encantamento vem de quando todos estão vibrando na mesma sintonia.
Um espetáculo comercial geralmente é produzido para atender à demanda do público (em sua grande maioria, leigo). Já , quando o comprometimento do grupo estiver acima do comercial e do estereótipo, aí sim surge um espaço para o Flamenco autêntico. Especialmente em juergas de bulerías, onde a expressividade é aflorada em conjunto com o cante, o toque e o baile. O flamenco sempre apresenta em seu cuadro esses três elementos - cante, toque e baile. Os jaleos também fazem parte importante desse cenário, e devem ser exercitados para que aconteçam espontaneamente.
Apesar de tanta transformação desta Arte, apesar das atualizações e estudos baseados no flamenco atual, sem uma base sólida não há como o artista expandir e criar com segurança. Portanto, estudar peças clássicas para trabalhar a base do baile é fundamental. Os alunos precisam ter consciência da importância do estudo da técnica do baile pois de nada adianta passarem horas ensaiando coreografias se seu sapateado não é firme, seguro, com um som limpo e cadenciado; de nada adianta tocar castanholas se o toque não está limpo, adequado.
Há duas maneiras de desenvolver o trabalho de postura e alinhamento corporal bem como todas as técnicas corporais envolvidas no baile flamenco em aula, que são os métodos de ensino do movimento corporal. Uma delas é o método parcial (estudar parte por parte de cada movimento repetidamente até que estejam completamente sendo executados com perfeição) a outra é o método global (onde estudam-se vários elementos dentro de um palo e, à medida que se desenvolvem-se e com muita repetição, vai-se fazendo as correções necessárias). Os dois métodos são eficazes. Depende da personalidade do professor pra escolher qual método se adequa mais a cada momento de sua aula. Ele pode inclusive utilizar ambos os métodos alternadamente.
No entanto , em se tratando de Flamenco, há algo em comum em ambos os métodos e sem o que não há como chegar-se a resultados eficientes: a repetição.
Trazer para a aula elementos clássicos e folclóricos, trazer motivação sempre mas sem perder o foco do flamenco verdadeiro e , acima de tudo, deixando claro para seu aluno em que etapa do aprendizado ele se encontra e o que vem a seguir. Essa é a melhor maneira de equacionar todas essas dificuldades com aprendizagem desta belíssima dança e desenvolver um estudo sério e consistente da Arte Flamenca.
(Yasmine Amar – professora de Dança Flamenca desde 1999)
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